tempête, 2021
trabalho desenvolvido ao longo de residência artística na Cité Internationale des Arts, Paris-França.
O trabalho Tempête foi realizado ao longo da minha residência artística em Paris, entre outubro de 2021 e janeiro de 2022. A residência foi decorrente do Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea 2020.
Em meus trabalhos em desenho, eu costumo observar a linha do horizonte de morros e montanhas que me circundam na cidade que vivo, Florianópolis. Quando cheguei em Paris, a cidade plana me causou um estranhamento, e de alguns pontos mais altos da cidade eu podia ver longe o horizonte de edifícios e monumentos históricos. Mas não horizontes sinuosos que costumam conduzir meus olhos nos desenhos de paisagem.
Passei então a observar o céu, e caminhava diariamente junto ao rio Sena.
Ao longo das semanas, inverti o preenchimento do papel, cobrindo de azul a parte superior da imagem, e mantive uma linha do horizonte serpentina, pois ainda que olhasse para o céu, caminhava por trajetos sinuosos. Em um pequeno acidente, virei um pote cheio de tinta azul sobre o papel, e a água azul tomou conta do desenho. Essa é uma característica fundamental da água, que pode trazer uma sensação de calma e se tornar turbulência no momento seguinte.
Assim, incorporei a mancha azul no trabalho e tudo o que ela representava: o acaso, a inconstância, a impermanência, a força da água, sem, no entanto, usar um pincel para controlá-la. Em seguida inseri formas orgânicas preenchidas de linhas, como tornados que se formam entre nuvens, criando ritmo e instabilidade entre linha e mancha.
Para mim esse trabalho apresenta também um processo interno ao longo da residência, de aceitar o imprevisível e abraçar o acaso.
tempête, série de desenho sobre papel, 42x60cm cada, 2021.