56 linhas com a mão direita e 56 linhas com a mão esquerda, 2021
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Me dirijo até a parede, no meio de onde fixei as duas folhas de papel A1 em frente à câmera posicionada em um tripé em meu quarto. Alongo sutilmente os ombros e me preparo para começar segurando o giz oleoso preto com a mão direita. Quantas linhas cabem nessa folha? Será que consigo desenhar uma linha reta? Nunca gostei muito de linhas retas, mas elas ajudam a concentrar e o que seria da arquitetura sem a linha reta. Mas eu não sou arquiteta, sou artista e desenho linhas sinuosas e tremidas. Preciso começar, a câmera está rodando. É só posicionar o giz no papel do lado esquerdo, e lá vai ela, não tão reta, chega ao meio, vai cambaleante, e quase toca a borda do lado direito. Ufa. A primeira foi. Agora a segunda, nem tão perto, nem tão longe, é preciso ter um respiro entrelinhas para ter uma harmonia aqui. Meço a distância perfeita com os olhos. Começo, meio, fim. Agora a terceira. Sigo nesse mantra por mais cinquenta e três linhas de cima para baixo, da esquerda para a direita até chegar à margem inferior do papel. É quase como a escrita. Dois minutos e trinta e sete segundos. Várias linhas que se encontram, mas tudo bem, fiquei sem mexer muito o corpo, elas acompanharam apenas a extensão do meu braço. Agora novo desafio. Troco o giz de mão. Desenhar com a mão esquerda, eu que sou destra, posicionando o giz na lateral direita da folha, sem pensar muito ela vai, mais tremida que a mão direita, mas também mais forte. A mão direita sempre foi da precisão, a esquerda da resistência. Sigo preenchendo mais cinquenta e cinco linhas, da direita para esquerda, de cima para baixo. Dois minutos e quarenta e oito segundos. Paro em frente às duas folhas de papel. Me retiro pela direita.
Stop.